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Quem disse que a praia não é para ser visitada no inverno? Quem o disse, não sabe o que perde. Aqui em Tavira, o mar, até em dias de chuva, não perde o encanto e o brilho. Mesmo que sejam os reflexos cinzentos do céu encoberto.
A maresia que emana no ar está presente 12 meses por ano e, todas as vezes que sou apanhado por este perfume algarvio, regresso, em memórias, à minha infância. Recordo-me do meu pai que, em tantas madrugadas, partia para Olhão à procura do peixe mais fresco da região.
Hoje em dia, passo dias, semanas, e algumas vezes meses, no sotavento algarvio meramente em trabalho. Aqui, o meu companheiro de viagem é sempre o comboio. As viagens que partilhámos trazem-me de volta os meus tempos de criança. Quando partia com o meu pai em mais um dia de trabalho, ou quando obrigava a minha mãe a viajar para o vermos. Talvez este seja o meu refúgio para essas memórias perdidas no tempo…
Agora quando a minha agenda fica menos agitada, saio de Tavira pela manhã, apanho o comboio, sigo com destino a Vila Real de Santo António e visito pedaços da minha infância. Aconchego-me ao lado da janela, pego no meu livro, coloco os fones e sei que em menos de uma hora estarei lá. Vou folheando o livro e intercalando as paisagens que se movem do outro lado da janela.
Chego ao meu destino. A extremidade mais a este do Algarve que faz fronteira com Espanha. Passeio por entre turistas no centro da cidade a descobrir o comércio local até chegar ao meu restaurante preferido. Aquele com a vista perfeita para o Rio Guadiana. Nenhum petisco de peixe me sabe tão bem quanto os do sul! E esta vista...?
Durante a tarde, sigo até à Rua da Estação Velha, subo a bordo do meu comboio e parto para a minha última paragem. Esta viagem será mais longa, mas vai dar-me mais tempo para folhear o meu livro e, quem sabe, fechar os olhos para sonhar.
Vou tranquilo até Olhão. Vou reviver a minha infância e redescobrir agora a cidade que tanto levou do meu pai. Espero que agora ela me traga algo dele também.